quinta-feira, 5 de junho de 2008

"É lasca!
Agora mandei minha chance de amizade pro espaço. Mas, mesmo assim, não vou desistir. Vou procurá-la pra me desculpar. Quer dizer, nem sei porque eu vou me desculpar, afinal, não chamei-a de 'menina do interior' num tom perjorativo. Mas é assim mesmo, cada um entende como quer.
O sinal tocou para ir-mos para casa e eu não a vi na hora do intervalo. Nem me desculpei nem me aproximei. Cheguei em casa era uma hora da tarde: uma pilha de louças pra lavar e secar, uma cozinha pra varrer e outra pilha de exercícios passados pelos professores.
Fui pro quarto, troquei de roupa e coloquei o avental. Pus também o som numa altura rasoável e fui fazer minhas coisas de dona de casa ao som de Pink Floyd.
Acho que passei umas duas ou três horas pra terminar tudo. Encontrei uma barata no ralo inferior do balcão da pia, acho que papai vai ter de mandar dedetizarem a casa.
Quando terminei a cozinha, tomei um banho e fiquei pensando na menina do interior. Amanhã eu realmente a procuraria e pediria desculpas. Terminei minhas atividades de física e biologia e fui assistir à tv. Papai chegou do trabalho na hora de costume e com Melina, minha irmã.
- Vamos pra um rodízio?
- Agora?
- Não, vamos esperar dar meia noite para colocarmos nossos vestidos e sapatilhas de cristal. É claro que é agora! - às vezes eu odeio o sarcasmo do meu pai.
Demoramos um tempo pra nos arrumar-mos, acho que ia dar umas oito horas quando a gente saiu de casa.
O caminho foi divertido com papai contando piadas e rindo da cara de Melina.
Quando eu chego à pizzaria, adivinha quem tava lá?
Mesmo casaco, mesmos olhos castanhos, mesma pele branca.
Quando subi as escadas e fiquei visível a quem estava dentro do cômodo, pude perceber uma parada brusca na gargalhada que ela estava dando devido a uma piada que, sua mãe eu supus havia acabado de contar.
Ficou me olhando por um tempo e voltou a atenção a sua mesa.
Acho que os dois garotinhos na mesa com ela deveriam ser seus irmãos mais novos.
Passei um tempo conversando com meu pai e com minha irmã, esperando uma chance de falar com ela. Algumas vezes nossos olhares se bateram. Então foi quando ela se levantou para ir ao banheiro - que para minha sorte, ficava bem nos fundos - foi que as borboletas começaram a voar mais no meu estômago e eu percebi que a hora de ir atrás dela era agora.
Esperei um tempo até ela entrar no banheiro.
Fiquei parado à frente da porta, que agora começava a se abrir.
- Oi - falei quando ela abriu a porta completamente. por ficar REALMENTE nos fundos, ninguém estava nos vendo.
- Oi - respondeu ela.
- Olha, é que...é...acontece que...eu queria pedir desculpas por hoje - a frase sai tão rápido que ela demorou certo tempo pra entender e abaixar as sobrancelhas.
- Ah, tá, sem problemas. Acho que vou voltar pra minha mesa agora. Tchau.
E se foi sem dar mais uma palavra.
Voltei à mesa, não nos olhamos mais.
Após um tempo, fomos para casa.
Não consegui pensar mais em nada o resto da noite.
Apenas no 'sem problemas' dela olhando nos meus olhos."

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